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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Resenha nº 4 - A Sombra do Vento, de Carlos Ruiz Zafón

Carlos Ruiz Zafón nasceu em Barcelona, em 1964, e tornou-se uma das maiores revelações literárias dos últimos tempos com A Sombra do Vento, finalista dos prêmios literários Fernando Lara 2001 e Llibreter 2002. Suas obras foram traduzidas para onze idiomas. O autor mora em Los Angeles e colabora nos jornais La Vanguardia e El País.

Barcelona, 1945. Estamos na Espanha franquista da primeira metade do século XX, no período que medeia os últimos raios de luz do modernismo e as trevas do pós-guerra. Daniel Sempere tem onze anos e é levado por seu pai, um livreiro, ao Cemitério dos Livros Esquecidos. Daniel deve escolher um livro e encontra o A Sombra do Vento, de um tal Julián Carax. Ao lê-lo, apaixona-se pelo livro e deseja saber mais sobre o autor. Julián Carax, aliás, Julián Fortuny, no entanto, está envolto em mistério. Alguém vem destruindo sistematicamente todos os volumes existentes, uma espécie de serial killer de livros. Daniel não tem percepção disto, mas se mete numa investigação por conta própria, arriscada e sem volta, às vezes ajudado pelo amigo Fermín Romero de Torres. Logo, o que seria apenas um levantamento da biografia de Julián se transforma numa busca por desvendar mistérios cada vez mais complicados. Por que Fermín entra em pânico à simples menção do inspetor Fomero? O que esconde Nuria Montfort, ex-secretária da editora Cabestany (a editora de Julián)? Que ligação com os mistérios sobre Carax pairam sobre a velha mansão dos Aldaya?

Ótimos personagens  fazem parte de uma galeria cuidadosamente constituída: Daniel Sempere, um menino de onze anos, personagem principal, filho de um livreiro; Fermín Romero de Torres, um adorável canastrão e ex-mendigo; o inspetor Fomero, sombra que atormenta toda a narrativa; Clara Barceló, o primeiro amor de Daniel; Nuria Montfort Masdedeu, de ações enigmáticas e segredos não revelados. Julián Carax, o autor do livro intitulado A Sombra do Vento, tido como morto em Paris. Fermín Romero, como ele mesmo diz, tomou o nome emprestado de um toureiro, pois precisa se esconder sob um pseudônimo. A descrição de sua figura me lembra algo de outro personagem-referência da literatura espanhola: Dom Quixote de La Mancha. O insistente inspetor Fomero, de certa forma nos resgata aquele outro inspetor irritantemente aplicado, o inspertor Javert de Os Miseráveis, de Victor Hugo. Aliás, no decorrer da história há uma referência-homenagem a Hugo. Bea, irmã de Tomás, amigo de Daniel, cresce na narrativa, a partir de um ponto, junto com o protagonista da história. Miquel Moliner é um dedicado amigo de Julián Carax e se tornará peça importante na pesquisa de Daniel. A dedicação dele ao escritor nos comove.

O ambiente gótico à Edgar Allan Poe aparece na ambientação das aventuras numa Barcelona soturna e miserável. Há lugares secretos, como o Cemitério dos Livros Esquecidos, guardado por Isaac, uma figura arrepiante, à Bóris Karloff.

O aspecto de folhetim amoroso acontece nas relações de Daniel Sempere com as várias mulheres da história: primeiro, Clara Barceló; depois, Nuria Montfort; finalmente, uma relação com Bea, que tem tudo para dar errado. A sequência rápida das ações nos remete aos romances de aventuras de outro escritor francês, Alexandre Dumas.

Nessa trama cheia de idas e vindas, em que mistérios conduzem a outros mistérios, acompanhamos a maturação de Daniel Sempere, de um menino de onze anos à idade adulta, suas experiências amorosas e sexuais, suas descobertas de mundo.

A Sombra do Vento. Editora SUMA de letras, 399 páginas.

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