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terça-feira, 7 de agosto de 2012

A experiência pelos livros

Pelo mundo todo, livros vendem, chegando às mãos das mais diversas pessoas. Afinal, por que lemos? O que nos motiva a passar horas à frente de páginas manchadas por textos, mesmo nessa sociedade de tons tão fortemente visuais, em que vivemos?

A revista Metáfora número 9 nos traz um artigo intitulado Como a leitura muda a vida. Nele, leitores famosos nos dão seus motivos de tal encantamento. Citam, às vezes, o livro que consideram tenha mudado sua vida, causado a mais viva impressão, a ponto de não mais conseguirem esquecê-lo.

Rogério Pereira, editor de jornal e diretor da Biblioteca Pública do Paraná, cita a leitura como proteção e afirma todos os livros lidos como importantes em sua vida: “os livros têm a capacidade de me fazer um tipo de companhia que jamais encontrei. E isso não tem nada a ver com alienação. Os livros são um espaço em que existo, duvido e me perco.” Para Neide Duarte, repórter da TV Globo, os livros a fazem compreender a largueza do mundo e ela nomeia Poesias Completas, de Fernando Pessoa e o Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, comos os mais importantes.

Para Jonathan Frazen, uma das referências da FLIP, de Paraty, “todo livro é uma conexão” e  nos revela em depoimento a 1000 Books to change your life (1000 livros para mudar sua vida), ter sido O Processo, de Franz Kafka e Uma questão pessoal, de Kenzaburo Oe seus livros-referência. Eliane Catanhêde, colunista da Folha de São Paulo, nos dá seu preferido O Estrangeiro, de Camus, asseverando ter decidido ser jornalista pelas palavras de O jovem Swann, de Marcel Proust, que dizia conhecer o mundo pela pena dos autores e pela descrição de personagens.

“A leitura nos permite viver outras vidas, ou a vida como poderia ter sido e não foi. Um livro nos ajuda a construir identidade e, com ela uma vez consolidada, a buscar horizontes mais ousados”, no parecer de Valesca de Assis, escritora e coordenadora de oficinas de desbloqueio literário. São indicados por ela o Clarissa, de Érico Verissimo, A Náusea, de Sartre e O Estrangeiro, de Camus. Já Luciana Villas Boas, agente literária, é de parecer que “… a leitura nos revela o mistério da linguagem e, de forma prática, quase autoajuda mesmo, ensina a nos expressar de maneira precisa, elegante e original. Não “recorro” à ficção. Ela faz parte de minha vida. Gosto, dependo, de transporte a outros universos. Não cita um livro em especial.

A leitura como forma de superação das angústias é abordada por Miguel Sanches Neto, autor de livro e colunista da própria revista Metáfora. Afirma que, ao estar depressivo, tem de ler poetas, principalmente Fernando Pessoa. O escritor, roteirista e tradutor Geraldo Carneiro, nos diz, mais incisivamente, que a realidade é alucinação provocada por falta de poesia, e afirma: “quando termino de ler um livro de qualidade literária ou ensaística, eu me sinto como se tivesse tomado uma overdose de vitamina. O Castelo, de Franz Kafka é mencionando por ele.

Em consonância com o objetivo primordial desse blog (resenhar para os leitores os livros que leio), também desejo deixar meu depoimento. O prazer da leitura fundamenta-se, para mim, em um pouco do que cada um desses leitores famosos disseram; entretanto, adoro a ideia de que cada livro lido contribui para fazer uma mudança interna, contínua e silenciosa. Sempre fica algo do que leio, seja uma impressão estética, vibrante, ou uma ideia em que não havia pensado antes, uma situação interessante pela qual determinado personagem tenha passado. Em síntese, os livros lidos me dão a experiência do compartilhamento de vivências e conhecimentos. Livros-referência? Certamente os tenho; minha infância deve muito a Monteiro Lobato, com o seu Reinações de Narizinho, Caçadas de Pedrinho, Serões de Dona Benta, Os doze trabalhos de Hércules, etc. Tão importantes naquela etapa da minha vida, os contos de fada também têm meu reconhecimento. Na juventude, rendi tributos a Dostoiévski, com Humilhados e Ofendidos, vivi os sonhos de Noites Brancas e me maravilhei com Crime e Castigo. Além disso, um livro impactante foi Procurando Godot, de Samuel Beckett, um verdadeiro soco na boca do estômago. Entre os nacionais, não poderia me esquecer de Laços de Família, de Clarice Lispector, o já mencionado Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa e Dom Casmurro, de Machado de Assis.

Livros são assim. Mais do que acalentar sonhos, nos ajudam a construir sonhos, viagens e realidades. Afinal, para nós, leitores por prazer, somos um pouco como o menino lembrado por Carlos Drummond de Andrade, lendo debaixo de uma árvore, a “história de Robinson Crusoé, comprida história que não termina mais”.

Artigo A Vida Transformada, de Terciane Alves e Luiz costa Pereira Jr, in Metáfora nº 9, junho/2012, páginas 44-49

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