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sábado, 26 de janeiro de 2013

Resenha nº 23 - Belle, de Lesley Pearse

Belle é uma menina inglesa e vive em Seven Dials. Conhece o garoto Jimmy na rua. Ele imediatamente se encanta com ela e o sentimento é mútuo. Ela tem uma particularidade: vive no andar de baixo do bordel da mãe, Annie. Quem olha por ela, no entanto, é Mowenna Davis, mais conhecida por Mog. Belle é mantida sob constante vigilância. Inocentemente, ela pensa que no andar de cima são dadas festas para as quais são convidados cavalheiros. No exato dia em que conhece Jimmy, Belle vai ao andar de cima e entra no quarto de uma das prostitutas, Millie. Quando Millie entra no quarto, seguida de um cliente, Belle é obrigada a se esconder sob a cama dela e presencia, pela primeira vez, uma relação sexual. Mas o pior está por vir: ela se transforma na única testemunha do assassinato da doce Millie. Kent, o assassino, vê a adolescente quando ela se evade do quarto.

Com a ajuda de um capanga, Sly, Kent sequestra Belle e a manda para uma casa de prostituição na França. Tudo o que Mog se esforçara para evitar – o envolvimento de Belle com o submundo da prostituição – cai por terra. Desesperada, Mog se lembra de um cliente de Millie, uma espécie de investigador e vai até ele. Seu nome é Noah Bayliss e ele trabalha para uma companhia de seguros e atua também como jornalista iniciante. Ele aceita investigar o que houve apenas porque ele gostava muito de Millie; suas investigações iniciais o levam a Jimmy, sobrinho do mal-humorado Garth Franklin, dono de um dos melhores bares do Seven Dials, o Ram’s Head, na Monmouth Street.

Jimmy revela-se um adolescente honesto, fonte de inesgotável crença de que Belle está viva e que conseguirá reencontrá-la. Ele e Noah tornam-se muito ligados. As investigações dos dois progride pouco e uma dia, o bordel de Annie pega fogo. As garotas são resgatadas, mas Annie e Mog têm de morar durante alguns dias com Garth e Jimmy.

A partir daí, a vida de Belle se modifica drasticamente; o enredo é rico em reviravoltas. O Woman’s Weekley classificou o livro de “Um épico dinâmico e emocionante que você não esquecerá tão cedo.” Lesley Pearse é uma das maiores romancistas do Reino Unido; ela realmente sabe contar histórias. Há cenas do submundo de Londres que me fizeram lembrar um pouco de Charles Dickens: crianças pobres, mas honestas, prostitutas portadoras de bons sentimentos. Ao longo de 552 páginas o leitor encontrará uma galeria de personagens marcantes, com Philippe Le Brun, Noah, Jimmy, Mog, Lisette, Etienne, Gabrielle; vilões como Kent e o concierge do hotel Ritz, monsieur Pascal; preconceituosos como a senhorita Frank e aproveitadores inescrupulosos como Madame Albertine.

Ficamos sabendo por que a mãe de Belle, Annie, ama a filha, mas não consegue expressar esse sentimento. Perpassa o livro a filosofia cristã, de que as pessoas se depuram pelo sofrimento.

Belle é um livro direcionado – suponho – primeiramente ao público feminino; afinal, fala dos dramas tipicamente femininos. Entretanto, para quem se interessa por uma história bem contada e personagens difíceis de se esquecer, como eu, encontrarão no livro boas horas do prazer de ler. Eficiente pesquisa dá apoio e contextualização à obra, cuja história se passa por volta de 1900, em Londres, Paris e New Orleans, EUA. Naquela época, o tráfico de meninas para a prostituição era muito comum e somente na França, atingia quatro entre cinco mulheres.

Lesley Pearse. Belle. Editora Novo Conceito. São Paulo, Ribeirão Preto: 2012. 559 páginas.