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domingo, 28 de julho de 2013

Notas de Viagem 5: Milão, Itália

A saída de Paris para Milão começou complicada. No aeroporto francês de Orly surgiu um impasse: na hora de embarcar, já na fila, uma funcionária da empresa aérea nos comunicou que só poderíamos levar como bagagem de mão um volume, pois o avião era pequeno. Uma luta campal aconteceu, para enfiarmos máquina fotográfica, filmadora, as bolsas das mulheres e minha mochila em uma bolsa de mão. Contamos com a simpatia de alguns brasileiros que, não portando nada, se ofereceram para nos ajudar.

Resolvido o impasse pré-embarque, o voo de duas horas e quarenta e dois minutos foi tranquilo. Uma van nos esperava para o traslado ao hotel La Spezia. Chegamos cansados e famintos. Na recepção nos informaram haver próximos alguns restaurantes.

Saímos à rua. Realmente, existia um pequeno restaurante defronte ao hotel. Ele acabou se mostrando uma escolha acertada, pois fomos atendidos por uma brasileira, mineira de Lagoa Santa. O atendimento foi vip, ela foi para a cozinha e fez um arroz para o Ricardo e para mim. Mais tarde, depois de um tour que nos levou a tarde toda, voltamos ao hotel para um bom banho quentinho e voltamos para o restaurante. Ivonete – esse era o nome da atendente – nos preparara uma fornada de legítimo pão de queijo. Se vocês forem algum dia a Milão, não deixem de procurar o restaurante Slow Down, pequeno mas muito, muito simpático.

Milão é um centro da moda, além de ter um interessante centro histórico. Há uma bela praça, dominada pelo Duomo del Milano. O Duomo é todo construído em estilo gótico, com imponente fachada em puro mármore, com suas indefectíveis torres em agulhas apontando para o céu. À esquerda está a galeria Vittorio Emanuele II, a qual se atinge através de um belíssimo Arco do Triunfo. Lá se concentram as grandes griffes, como Prada, Hugo Boss, Louis Vuitton, Zara, Sephora.

Um pouco mais adiante, já fora do circuito da Piazza del Duomo, há uma outra praça, com a estátua de Leonardo da Vinci no centro, dando para a entrada do famosíssimo Teatro del Scala, de Milão. Sua fachada decepciona um pouco, após vermos tantos monumentos grandiosos. Entretanto, dizem, sua acústica é perfeita e o interior é riquíssimo, com veludos, cristais da Boêmia e lugares para 2015 pessoas sentadas. Como estava em temporada lírica, não pudemos entrar. A obra que estava sendo levada era Carmina Burana, de Carl Off.

O Palácio Sforzesco é outro lugar obrigatório para visitas. Está bem conservado, com belos jardins na parte dos fundos, que dão para o Arco da Paz (como os europeus gostam de Arcos!). A estada em Milão foi curta, durou apenas um dia e meio e não deu para vermos tudo. A cidade nos servia apenas como ponto de apoio, pois estávamos em trajeto, de ônibus, com destino a Veneza. Por ordem, após Veneza se seguirão Verona, Pádua, Pisa, Florença, Assis e, finalmente, Roma.

sábado, 27 de julho de 2013

Notas de Viagem 4: Le Musée du Louvre

Quase cometo um pecado irreparável: ia prosseguindo essas notas de viagem sem comentar nada sobre o Musée du Louvre. É em si uma construção cheia de fatos históricos e prende-se ao passado parisiense. É o maior museu do mundo, com uma inigualável coleção de obras de arte entre as quais, sem dúvida, destaca-se a Monalisa, de Leonardo da Vinci, o gênio do Renascimento. Está protegida por grossos vidros à prova de bala, depois de um roubo da tela e de outras tentativas de danificá-la.

A Monalisa foi roubada em agosto de 1911; o escritor francês Guillaume Apollinaire e o pintor espanhol Pablo Picasso foram presos, suspeitos da pilhagem. Inocentes, foram soltos depois. Quando se acreditava que a obra estava perdida para sempre, ela apareceu na Itália, nas mãos de um antigo servidor do Louvre. Não bastasse isso, em 1956, um psicopata jogou ácido sobre o quadro, danificando-lhe a parte inferior; o restauro da tela foi demorado e trabalhoso. Quando a obra retornou ao seu lugar, um boliviano estragou a sobrancelha esquerda da Monalisa, jogando-lhe uma pedra. Em agosto de 2009, uma mulher russa arremessou uma xícara de café vazia contra o valioso alvo; felizmente, dessa vez, o vidro protetor já existia e o objeto arremessado somente atingiu a proteção.

Gastamos uma tarde, em rápida excursão guiada; não conseguimos ver nem um décimo do acervo. É, a gente tem de dar razão à frase “é melhor ver pouca coisa bem do que muita coisa mal”. Seria necessário uma semana pelo Louvre.

Dentro do magnífico museu, um fato prosaico aconteceu: meu amigo Ricardo se perdeu do grupo, maravilhado com tudo o que via. Márcia, sua mulher, entrou em desespero. Minha esposa ficou para trás, ajudando-a na missão (quase impossível, o Louvre estava cheio, como sempre) de encontrá-lo. Continuei a visitação, prestando atenção para que minha filha Vanessa e a filha do casal, Gabriela, também não se perdessem. Após esperar um pouco no saguão onde está a pirâmide de vidro, encontramos o Ricardo. Ou melhor, ele nos encontrou. Um tempo depois, Márcia e Luiza chegaram.

O Louvre foi erguido em 1190, por Filipe II, como fortaleza para proteger Paris contra o acesso de invasores pelo rio Sena; dessa época existem os restos da antiga torre, que podem ser vistos na Salle des Cariatides (Sala das Cariátides). Quando Luís XIV transferiu o centro do poder de Paris para Versailles, o prédio ficou um tempo abandonado. Após várias peripécias, foi remodelado e transformado no museu como hoje se apresenta.

A capital francesa é uma cidade de museus; eles existem aos montes. Na pressa das excursões turísticas, não há como conhecer os outros, tanto por motivos econômicos, em todos se cobram ingressos, quanto por exiguidade de tempo mesmo.

Para quem, como eu, ama História antiga, sente um gostinho de frustração. Mas como visitar com proveito um prédio gigantesco, de quatro andares repletos de um acervo artístico único no mundo em apenas cinco horas? Ficou para outra vez.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Notas de Viagem 3: Ainda Paris

Como qualquer das grandes metrópoles, Paris vive dificuldades de trânsito. Apesar de bem servida de sistema de metrôs, há, de acordo com o guia turístico que nos acompanhou, três carros para cada grupo de 4 pessoas. São comuns os engarrafamentos nas grandes artérias parisienses. Alfa Romeos, Peugeots, Renaults, Mercedes Benz, motocicletas, Smarts, Toyotas, Citroëns, etc. disputam lugar no caos.

Há também um sistema de transporte por bicicletas, o Vélo, em que “magrelas” públicas podem ser alugadas, pagando-se o direito de usá-las por meio de um parquímetro. O ciclista pode deixá-la em qualquer estacionamento próprio, para que outro usuário possa reutilizá-la.

Fazia um frio anormal durante os quatro dias de verão passados na capital gala. Ouvíamos dizer, na Itália tudo seria diferente: lá, as temperaturas estavam altas, com clima seco.

Passear por Paris à noite é uma experiência e tanto; todos os prédios importantes são iluminados, emprestando à cidade a alcunha de cidade-luz. A partir das 23 horas, a Tour Eiffel é iluminada também, enquanto do seu topo um poderoso holofote varre os céus. Durante o tour noturno, fomos avisados para tomarmos cuidado com as bolsas e bolsos, pois por todos os lados existem pickpockets, ou batedores de carteira.

Durante o dia, fomos em visita à Catedral de Notre Dame. Exemplar do genuíno gótico, com seus belos arcobotantes, seus pórticos em camadas de baixo relevo, em formato ogivais, Notre Dame é uma história à parte na história da capital. Arcobotantes são arcos que, partindo de estruturas que funcionam como contrafortes, dão sustentação às enormes paredes externas do altar-mor (veja na foto ao lado). É uma construção enorme, com um frontispício maior ainda, do qual se destacam as torres dos campanários. Altíssimas agulhas estão apontadas para o céu, como é de praxe no estilo gótico. Do alto dos seus beirais, grotescos gárgulas e quimeras nos fitam com olhares intimidadores.

Ali, lembrei-me do escritor francês Victor Hugo, em sua obra O Corcunda de Notre Dame. Lembrar Hugo na cidade-luz é sempre apropriado; seu maior romance, Les Misérables (Os Miseráveis, em português) se passa nas ruas de Paris, durante a Revolução Francesa. O bairro boêmio de Montmartre, onde, em 15/08/1534, na Capela de Saint-Denis nasceu a Companhia de Jesus (jesuítas), foi palco da intelectualidade parisiense. Uma dica: assista ao filme Meia-noite em Paris, de Woody Allen.

Com pesar, chegava a hora de abandonar Paris, por mais encantos tivesse, para darmos prosseguimento à viagem, embarcando em um avião de menor porte, rumo a Milão, na Itália. Quatro dias foram insuficientes para conhecermos a principal cidade francesa. Mentalmente, eu me prometia voltar a ela, quando possível. Os franceses podem ser mal-humorados, mas sua cidade é encantadora. A História trafega pelas ruas, envolve seus monumentos, nos fala de momentos importantes para a ocidentalidade.

Até mesmo no distante Brasil, Minas Gerais, antiga Vila Rica, a influência do espírito da Revolução Francesa se fez presente, nos ideais libertários da Inconfidência Mineira. Ademais, França e Brasil mantiveram, historicamente, fortes laços: nunca é demais rememorar que Machado de Assis teve seus livros editados pela famosa Éditions Gallimard

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Notas de Viagem 2: A chegada a Paris

Após 9 horas de viagem de Belo Horizonte a Lisboa, a bordo de um Air Bus A330, chegamos à capital portuguesa. O aeroporto lisboeta é enorme, é a porta de entrada para a Europa. Como tivemos um tempinho livre após as providências legais, demos uma voltinha pela área da Duty Free. Muitas lojas, muitos artigos, desde vinhos, perfumes a livros. Logo depois, tomamos um avião pequeno, indo em quase 3 horas de voo direto a Paris.

Chegamos cansados; após o traslado para o Novotel Paris Est, situado no bairro chamado Bagnolet, algumas dificuldades com a guia. Ela nos disse que o opcional à Tour Eiffel (subida à 2ª plataforma) estava cancelada. Ora, entendi que, como estava sendo ofertada essa parte, mesmo opcional, a empresa Special Tours deveria mantê-la, tendo um número suficiente de interessados. E outra dificuldade viria logo depois: ela não queria aceitar o pagamento dos opcionais via Travel Card. A pressão foi geral e fechamos questão; se ela não aceitasse o cartão, ninguém iria pagar em dinheiro vivo (vivíssimo, aliás, pois era em euros). Ela recuou em seu propósito.

Fizemos os passeios cobertos pela excursão e tomamos a iniciativa de fazermos nossos próprios programas no tempo livre. Assim, nos aventuramos pelos metrôs de Paris, muito eficientes, levando-nos a qualquer lugar sem dificuldades. A capital francesa é muito bonita e ainda quero voltar lá, uma vez que não deu tempo de ver todas as suas nuances.

O centro da capital gala não tem arranha-céus; há leis reguladoras para isso, mas também existe uma outra causa, estrutural. Quando Paris começou sua expansão, as pedras para a construção das casas foram tiradas do subsolo da cidade. Desta forma, são muitas as galerias subterrâneas e o solo, enfraquecido, não suportaria o peso de edifícios altos. Eles aparecem apenas fora do centro parisiense, num bairro chamado La Defense.

Como francês gosta de croissants! É quase uma instituição. O pãozinho francês é escuro e muito mais duro, mas o sabor não é dos piores. Não sei se é por causa da comida horrível que comem, mas os citadinos são muito mal-humorados, são mesmo famosos por isso.

O Castelo de Versailles, localizado na cidade do mesmo nome e que hoje é um subúrbio de Paris,  é um sonho, ou melhor, uma alucinação, uma grandiloquência do período monárquico de Luís XIV; que alucinação, entretanto! Não dá para descrever, tal a beleza do local. Tem jardins esplêndidos, bem cuidados. Aliás, Paris é muito bem cuidada, não existem monumentos pichados, não há lixo nas ruas. Os ônibus e metrôs funcionam rigorosamente dentro do horário. Champs Élysées são um boulevard imenso (quase dois quilômetros), repleto de lojas de griffe de ambos os lados. Louis Vuitton, Hugo Boss, Sephora, etc.

Tive de comprar uma bateria nova para minha câmara, na FNAC; lá se foram embora nada menos que 54 euros (muito caro!). Talvez para compensar, tomei um sorbet de maçã verde, uma delícia dos deuses. Na França há o glace e o sorbet; o primeiro, é feito com base em creme de leite, ovos; já o segundo é feito de xarope de açúcar e de polpa de frutas.

Descobrimos um bistrô à margem do Sena com um atendimento muito bom. O garçon é português, de nome Diego e nos atendeu muito bem. A guia nos disse que Paris é uma cidade com muita preocupação socialista. Como seria isso, se tudo se cobra e cobra-se muito caro? O custo de vida parisiense é muito alto.

Entretanto, existe uma Paris de ruas estreitas, cheias de agradáveis restaurantes, barezinhos, no Quartier Latin (Bairro Latino), edificado pelos romanos, quando estes tomaram a capital francesa. Lembrei-me de Asterix,  heroi das revistas em quadrinho, e de sua turma de irredutíveis gauleses lutando contra as hostes romanas de Júlio César. O chefe gaulês Vercingentórix realmente existiu.

Demos a sorte de, no domingo (dia 21/07), comemorar-se a Queda da Bastilha e por esse motivo assistimos a parte das festividades no Arco do Triunfo, construído por Napoleão Bonaparte. E a sorte nos favoreceu, pois já havíamos desistido de subir a Tour Eiffel: foi bem mais tranquilo fazê-lo naquele dia, quase não havia fila.

Bom, por hoje é só. Estas notas de viagem deveriam ter sido postadas durante a viagem e não depois dela, mas tive problemas com o google, que a qualquer tentativa de acesso reconhecia-me como alguém intruso e me solicitava um número de celular para mandar por ele uma nova senha de confirmação. Meu celular esteve inoperante por toda a viagem pela Europa.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Notas de Viagem 1: Rumo a Confins

E Chegou o dia D, ou melhor, o dia Dez. Todas as providências tomadas, passagens compradas, hotéis reservados, passaportes, seguro de viagem. Travel Card, que é uma forma mais segura de levar dinheiro lá para fora. O mundo para onde vamos pode ser chamado de Primeiro Mundo, mas algumas cositas continuam sendo de Terceiro; os assaltos são uma delas.

A tensão também começa a se elevar. Sairemos do Aeroporto de Confins, se não houver os atrasos hodiernos, às 16:20, em voo TAP, direto para Lisboa. Após três horas no aeroporto de lá, pegaremos uma conexão para Paris, e chegaremos ao Aeroporto de Orly.

Vamos seis pessoas: o casal amigo Márcia e Ricardo e a filha deles, Gabriela; minha esposa Luiza e eu e nossa filha Vanessa. Ricardo e Márcia já têm alguma experiência de viagens internacionais, embora em cruzeiros marítimos. Estão, ao que parece, muito ansiosos, pois cruzeiros marítimos têm limites mais delimitados (tudo se passa a bordo) e numa viagem como a que faremos estamos, em muitos momentos, por nossa própria conta.

Mas… voilá! À medida que formos progredindo na viagem, postarei as impressões e comentários de um turista internacional de primeira viagem. E como um virginiano típico, tento controlar as variantes, embora a Vida tenha me ensinado que tudo isso não passa de ilusão: a gente controla quase nada. Não custa tentar. Assim, muni-me de várias informações sobre as cidades a serem visitadas, revirei blogues de quem já foi, assisti a vídeos institucionais ou não, consultei mapas, segui as informações meteorológicas. Aprendi alguma coisa sobre arquitetura gótica, sobre história, sobre urbanização, as quais irei passando ao longo do trajeto.

O roteiro: Paris, depois direto para Milão. Verona, Pádua, Assis, Florença (o berço do Renascimento), Pisa, Veneza e, finalmente, Roma. A partir de Roma, há um passeio imperdível, opcional: um tour por Nápoles, visita às Ruínas de Pompeia, um passeio à ilha de Capri, passando pela Costa Amalfitana. Para todos esses deslumbrados olhares, o olhar da minha câmara fotográfica.

Será uma boa oportunidade para desenferrujar ouvidos e língua com o meu razoável inglês, meu acanhado francês e meu inexistente italiano; restarão duas outras opções: treinar meu esperanto e, se tudo isso falhar, a fantástica língua internacional de sinais: a mímica.

Aguardem cenas dos próximos e emocionantes capítulos!