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terça-feira, 29 de julho de 2014

Resenha nº 42 - Educação, Escola e Docência, de Mario Sergio Cortella

Mario Sergio Cortella nasceu em Londrina, Paraná, em 05 de março de 1954. É filósofo e escritor muito conhecido no Brasil, professor-titular da PUC-SP, tendo atuado na instituição por 35 anos, com mestrado e doutorado em Educação. Publicou, entre outros livros importantes, talvez os mais conhecidos do público em geral: Não Espere Pelo Epitáfio: provocações filosóficas; Não nascemos prontos!; Qual é a tua obra? Inquietações propositivas sobre gestão, liderança e ética.

Este Educação, Escola e Docência - novos tempos, novas atitudes, é um pequeno grande livro. Com a leveza de texto que lhe é peculiar, bem como o bom humor e profundidade com que toca questões primordiais, Cortella nos dá, em 126 páginas, várias pérolas, produtos do seu refletir sobre o mundo e, especificamente, sobre a Educação.

O livro busca analisar o descompasso que existe entre a Escola e o mundo aqui fora. Nós, como sociedade, mudamos muito ao longo do século XX e deste princípio de XXI. A Escola continua lá nos idos do século XIX. Como mudamos nós?

Tornamo-nos mais apressados, mais superficiais, impacientes e com um ritmo diferente do da Escola. Hoje temos acesso a tecnologias interessantes, as informações são acessadas rapidamente pela internet, com seus mecanismos de busca de dados. Passamos a padecer do excesso de informação, pois como nos dizia Caetano Veloso, em Alegria, Alegria,  O sol nas bancas de revista/Me enche de alegria e preguiça/Quem lê tanta notícia.

Analisando no texto introdutório a crise por que passamos, notadamente por que passa a Escola, o autor nos diz:

“Com a emergência de múltiplos paradigmas, precisamos lembrar que estamos vivendo, hoje, na Educação – não só nela, mas também nela –, momentos graves, em que há certo desnorteamento, uma alteração rápida das situações do nosso dia a dia, uma mudança muito veloz na maneira como as coisas são feitas, pensadas e comunicadas. Também o adensamento exagerado das pessoas nas metrópoles levou ao esvaimento e até à extinção de alguns valores que eram fortes em outros momentos da nossa história e que precisam ser resgatados.

Esses momentos graves significam, como sempre na história humana, a possibilidade de momentos grávidos. Sim, momentos graves são também momentos grávidos! Afinal de contas, toda situação grave contém uma gravidez, ou seja, a possibilidade de dar à luz uma nova situação. Só que, em Educação, muita gente enxerga só a gravidade do momento e não vê a gravidez que ele contém. E passa boa parte do tempo dizendo: “Eu queria voltar ao passado se pudesse”, “no meu tempo…”, recorrendo, portanto, a uma nostalgia muito negativa em relação àquilo que podemos, de fato, fazer em Educação.” (páginas 10/11)

A partir desta proposta, Cortella nos indica mudanças de ponto-de-vista, mudanças de atitudes. Os títulos dos capítulos são sugestivos A Emergência de Múltiplos Paradigmas, Entre a cautela e o ímpeto: escola em descompasso, E quanto a nós, docentes?, Estado de atenção e o desafio de mudar, etc.

Edgar Morin, antropólogo, filósofo e sociólogo nos alerta sobre o homem ser um produto 100% biológico e 100% cultural. Necessariamente, está nos dizendo que, qualquer análise do Homem terá de levar em conta esse dois componentes indissociáveis. Produzimos a cultura e somos igualmente afetados por ela, em todos os nossos pensamentos, em todas as nossas atitudes e valores.

O pós-modernismo liquidou praticamente com existência de apenas um paradigma e isto pode ser sentido ou visto mesmo fora do âmbito das Artes. Vivemos uma época pós-moderna, na qual as diferenças têm de conviver, nem sempre harmoniosamente, mas já não há somente uma tendência a se analisar. E o que resulta daí?

Se não podemos nos centrar em uma única escola literária, artística, ou qualquer outro objeto de estudo, servindo-nos de atitudes orientadas por apenas uma teoria de contornos rígidos, forçosamente temos de aprender a aprender. Aprender com o processo, já que em nenhum outro momento da história humana tal quantidade de paradigmas coexistentes se fez presente e, de quebra, nunca tivemos tantos fatos importantes com consequências planetárias. Daí a expressão de Mario Sergio, “momentos graves são também momentos grávidos”, ganhar tamanha preponderância: é, em última análise, o “aprender com o processo”.

Espero ter dado uma leve degustação do livro do Mario Sergio Cortella. Este Educação, Escola e Docência é um livro que não pode faltar na estante de atualização de qualquer professor. É leitura imprescindível, mais que isso: é reflexão imprescindível!

Mario Sergio Cortella. Educação, Escola e Docência. Cortez editora, s/ed. São Paulo, SP: 2014

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