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segunda-feira, 23 de março de 2015

Resenha nº 48 - Renascimento, de Sérgio Pereira Couto

Resultado de imagem para livro Renascença A Lenda do Judeu ErranteO livro Renascimento, subtítulo A Lenda do Judeu Errante mistura elementos das narrativas de ação, de mistério e antigas lendas, teoria de conspiração e até de magia, passando por doses de Espiritismo. A maioria dos ingredientes o faz lembrar-se de outros livros, caro leitor?

A associação imediata que fazemos é com O Código da Vinci, de Dan Brown, Best-seller que se farta das mesmas fontes, exceção feita ao Espiritismo. O “Best-seller erudito” é uma vertente criada por Umberto Eco, principalmente com O Nome da Rosa. Em O Código, o personagem Robert Langdon é uma espécie de Indiana Jones; aqui, conhecemos Roger Briggs, um judeu imigrado para o Brasil, dono de uma empresa virtual. Ele tem um relacionamento com uma inglesa, Elizabeth Klinger, também imigrada para o nosso país, trazendo, de quebra, sua irmã Emile Klinger. A personagem Emile é a quem será atribuída a “função deslindadora da trama”.

O que terão esses personagens em comum, além de serem todos imigrantes? Ah, sim, eles todos sofreram perdas em atentados terroristas. Roger perdeu a mãe e o pai no atentado de 11 de setembro de 2001, nos EUA; as irmãs Klinger igualmente perderam seus pais no atentado terrorista de 7 de julho de 2005, em Londres. Roger e Liz se conheceram em uma exposição na Faculdade Armando Álvares Penteado. O tema da exposição? Egito antigo.

O começo da trama rocambolesca se dá com a notícia de que um investidor misterioso, Dr. Varshae, deseja – aparentemente de modo gratuito – investir na empresa virtual de Roger. O Dr. Varshae aparenta ser um homem velho; é magro, anda claudicantemente apoiado numa bengala em cuja parte de cima está engastada a figura de um chacal. Briggs fica sabendo, então, que o investidor lhe exige uma viagem à Roma e à Florença e lhe diz para levar a noiva Liz.

A partir daí, encontros e desencontros, mistério em mistério, desdobramentos espirituais em desdobramentos espirituais (ou estados alterados de consciência) envolvem outros personagens já mencionados a outros: o frei Avrill e seu mestre, frei Cello, e o Monsenhor Oliveira; um consultor para assuntos espíritas (?) Luís, codinome “Zeus”. Quem mantém contato com tal consultor espírita é Emile, convertida ao Espiritismo há pouco. O ponto alto, de maior suspense, acontece na cidade de Florença, abrangendo um insuspeitado caso de reencarnação tripla, em que se traz ao século XXI ninguém menos que o famoso Savonarola, Lourenço de Médici e Beatrice D’Este, a partir da qual tudo “se explica”.

Permeando toda essa mistura, está a lenda medieval do judeu errante. Para melhor orientação dos leitores desse blog, reproduzamos da orelha do livro o texto que, por sua vez, é reproduzido da Wikipédia, sobre tal lenda:

“O Judeu Errante é um personagem mítico, que faz parte dos mais remotos ciclos de tradições cristãs. Tratar-se-ia de um contemporâneo de Jesus Cristo, o judeu chamado de Ahsverus ou Ahsuerus, habitante de Jerusalém; ali, trabalhava, num cortume, ou oficina de sapateiro, que ficava numa das ruas por onde os condenados à morte por crucificação passavam carregando suas cruzes.

Na sexta-Feira da Paixão, Jesus Cristo, passando por aquele mesmo caminho carregando sua cruz, foi importunado com ironias, ou agredido verbal ou fisicamente, pelo coureiro Ahsverus. Jesus, então, o teria amaldiçoado, condenando-o a vagar pelo mundo, sem nunca morrer, até a sua volta, no fim dos tempos.”

Não resta dúvida de que a trama é imaginosa e propensa a roubar a atenção do leitor que goste deste tipo de livro, apesar de alguns clichês. Além disso, o texto é bem feito, fluente, escrito com habilidade em dosar as informações, até desaguar no clímax narrativo.

Não é um livro espírita, entretanto, nem o autor quis escrever algo dentro dos parâmetros doutrinários do Espiritismo, apesar de abundarem citações de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec. Aliás, se a pretensão fosse realizar uma obra caracteristicamente kardecista, ela não se sustentaria, por conter absurdos os quais entram em choque frontal com a filosofia espírita.

Por tudo o que eu disse, verificará o inteligente leitor desse blog que não gostei desse livro. Igualmente, não gostei de O Código da Vinci, quando o li. Não me apetecem essas narrativas rocambolescas, ainda que contenham boas pitadas de referências eruditas. São bons os conhecimentos transmitidos sobre a Renascença italiana; houve claramente uma pesquisa sobre o assunto, que é bastante complexo, tendo em vista o jogo de interesses políticos entre a Igreja Medieval e os reis europeus.

Fica a indicação, para quem gostar desse tipo de literatura.

COUTO, Sérgio Pereira. Renascença: A Lenda do Judeu Errante. Giz Editorial. São Paulo, SP: 2007.

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