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domingo, 8 de novembro de 2015

O Leitor Que Não Amou O Homem Que Amava Os Cachorros

SResultado de imagem para livro o homem que amava os cachorrose você acompanha este blogue e, por acaso, consultou a programação de livros a ler no mês de novembro, vai perceber que retirei da lista O Homem Que Amava Os Cachorros, de Leonardo Padura. Creio que o fato acontece com todo mundo, mas, ainda assim, ficou-me certo incômodo. Não é a primeira vez, nem será a última. E aí pensei: por que não usar essa minha já longa experiência de leitor e falar um pouco sobre livros cuja leitura se iniciou e não terminou?

Então, comecemos. Por que, às vezes, não conseguimos terminar uma obra adquirida ou emprestada (como no presente caso)? Ah, são vários os motivos. Vejamos:

 

    1. O livro é mal escrito, o enredo não consegue prender a atenção do leitor; os personagens são muitos e sem função na história; o autor não percebeu, mas o livro é um poço de incoerências.
    2. O leitor não sente identificação com o assunto. É o caso, por exemplo, de alguém que detesta livros de terror e tenta forçar a leitura de uma história assim.
    3. O leitor é do tipo exigente e o livro está cheio de erros graves de revisão; erra na concordância verbal e nominal, etc.
    4. O leitor gosta do autor, sente indentificação com o assunto, mas naquele exato momento não está disponível para aquele tipo de leitura. Há certas épocas em que estou mais para ler algo mais leve, mais fantasioso, como O Senhor dos Anéis.
    5. O leitor está numa fase difícil, preocupado com alguma coisa importante, o que o impede de mergulhar na leitura. Existe sempre um contrato tácito entre a obra e seu leitor, no sentido de este aceitar o jogo proposto pela obra.
    6. O livro é considerado de leitura muito complexa, erudita, com muitas palavras desconhecidas do leitor. Isso acontece, via de regra, com leitores mais jovens diante de clássicos com traduções antigas, cheias de vocábulos em desuso.
    7. Medo da fama do autor. Muita gente treme de medo diante da possibilidade de ler algo de Machado de Assis, mesmo que seja um trabalho mais leve. A celebridade de Machado pode criar no leitor um pensamento de que não esteja à altura de ler algo dele.
    8. A obra é um calhamaço, aí pelas 600 ou 800 páginas. Conheço muita gente assim; quando aconselhamos uma leitura, vem a indefectível resposta: “Ah, mas é grande demais!”
    9. O leitor não tem muito tempo para ler e tenta ler um romance poucas páginas por dia e com pouca concentração. Fatalmente, vai matar a sequência da leitura e desistir da tarefa.
    10. O leitor começa a ler o livro e dá de cara com spoilers, isto é, aquele amigo-mais-que-inimigo resolve, entusiasmadamente, lhe contar como tudo acaba e acaba por estragar sua diversão.

De acordo com o livro Como um romance, de Daniel Pennac (é fininho, é ótimo, recomendo a leitura), o leitor tem o direito de não continuar a leitura. Isso parece simples, mas uma boa parte de nós já teve, certamente, de ler algum livro extremamente chato, para alguma disciplina de faculdade. E aí, a recomendação de Daniel Penac se torna complicada. Não há outro caminho para esses casos: taca-lhe disciplina, força de vontade!

O que aconteceu com este O homem que amava os cachorros? Leonardo Padura é ótimo escritor, o livro é bem escrito, bem traduzido (o autor é cubano), a história é interessante – sobre uma parte da vida de Léon Trotsky e sua vinculação com o comunismo –, a obra é um calhamaço, mas não tenho problemas quanto a isso. Penso, simplesmente, ser o caso de um livro certo num momento errado. Fosse outro o tempo, me forçaria assim mesmo, acabando por fazer uma leitura sofrida. Nada disso. Procuro o prazer da leitura.

Comigo, leitor, isso aconteceu poucas, pouquíssimas vezes. O Harry Potter eu só li o primeiro volume e fui até o meio do segundo. A leitura travou e nunca mais o peguei. Tenho planos de retomar a leitura desta série.

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