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domingo, 20 de dezembro de 2015

Resenha 62 - A Culpa É das Estrelas, de John Green


John Green nasceu em Indianapolis, Indiana, nos EUA, em 24 de agosto de 1977. Apenas 3 semanas depois de ele ter nascido, a família se mudou para Orlando, Florida. Ele frequentou a Lake Highland Preparatory School e depois a Indian Springs School (esta última serviu como cenário para o seu livro Looking for Alaska – no Brasil, Quem é você, Alaska?). Formou-se com diploma duplo, em Inglês e Estudos Religiosos pelo Kenyon College, em 2000.

Escreveu também o já citado Looking for Alaska (2005), An Abundance of Katherines – O Teorema Katherine (2006), Le it Snow: Three Holliday Romances (com Maureen Johson e Lauren Myracle) – Deixe A Neve Cair (2008), Paper Towns – Cidades de Papel (2008), Will Grayson, Will Grayson – Will e Will, Um Nome, Um Destino (2010), The Fault in Our Stars – A Culpa É das Estrelas (2012). É um escritor de literatura YA (Young-Adult – para Jovens e Adultos) bastante conhecido e querido de seu público.

John Green ganhou o Printz Medal e o Printz Honor da American  Library Association. É um sucesso não só junto ao seu público jovem, mas também junto à crítica.

A narradora é Hazel Grace, quem inicia a história:

“Faltando pouco para eu completar meu décimo sétimo ano de vida minha mãe resolveu que eu estava deprimida, provavelmente porque quase nunca saía de casa, passava horas na cama, lia o mesmo livro várias vezes, raramente comia e dedicava grande parte do meu abundante tempo livre pensando na morte.” (página 11)

Hazel é portadora de câncer. Seus pulmões estão afetados e ela é obrigada a permanecer ligada, por cânulas, ao balão portátil de oxigênio. Participa de um Grupo de Apoio, no qual vão se destacar alguns personagens. Patrick, que teve o saco escrotal removido, um menino chamado Isaac; Augustus Waters, de dezessete anos, portador de um osteossarcoma – câncer nos ossos. Isaac tem câncer nos olhos.

Mas não só destes personagens vive a história; Mônica é namorada de Isaac, Kaythlin, amiga de Hazel, o escritor Peter Van Houten, autor do livro que a protagonista lê com frequência, Uma aflição imperial; a secretária dele, Lidewij Vliegenthart. O escritor é de ascendência holandesa. Junte-se a esses personagens a família de Augustus Waters e o pai e a mãe de Hazel.

O livro é escrito em uma linguagem bastante apropriada para seu público jovem:

“O Grupo de Apoio era megadeprimente, óbvio. A reunião acontecia toda quarta-feira no porão de uma igreja episcopal – uma construção no formato de cruz com paredes de pedra. Nós nos sentávamos em uma roda bem no meio da cruz: onde os dois pedaços de madeira um dia se cruzaram, onde esteve o coração de Jesus.
Sabia disso porque o Patrick, Líder do Grupo de Apoio e o único naquele lugar com mais de dezoito anos, falava sobre o coração de Jesus todo raio de reunião, sobre como nós, jovens sobreviventes do câncer, estávamos sentados bem no sagrado coração de Cristo, e tal.” (página 12)

A fixação de Hazel Grace Lancaster com o livro Uma aflição imperial faz com que ela vá, em companhia de Augustus Waters e de sua mãe, viajar para a Holanda, atrás do autor. É que a história do livro termina sem fechar algumas pontas, sem fornecer à leitora algumas informações que ela considera muito importantes:

“O Van Houten suspirou. Depois de mais um gole, disse:
— Muito bem. Você está curiosa a respeito de quem?
— A mãe de Anna, o Homem das Tulipas Holandês, Sísifo, o hamster, quer dizer, é só... o que acontece com todo mundo.
O Van Houten fechou os olhos, inflou as bochechas ao expirar e então olhou para cima, para as vigas de madeira expostas que se entrecruzavam no teto.
— O hamster – ele disse, depois de um tempo. – O hamster é adotado pela Christine...” (página 173)

Este A Culpa É das Estrelas é constantemente comparado a outro megassucesso mais antigo, o Love Story – Uma História de Amor, de Jennifer Echols, como nos lembra matéria da também escritora para o público YA, Paula Pimenta:

“Quando li Love Story, que conta a história de uma garota que tem leucemia e também vive uma história de amor, lembro que chorei muito e torci para que o final fosse diferente do esperado. Em A Culpa é das Estrelas essa torcida se repete e talvez por isso tantas pessoas se comovam com o livro. Com um tema real, ele nos sensibiliza, nos faz pensar...” (Veja, A Culpa É do John Green, 05/06/2014)

O relacionamento de Augustus Waters e Hazel Grace se aprofunda no decorrer da história. Não há um clima sombrio, mas, como nos lembra o parecer do The New York Times, transcrito na quarta capa do livro, há

“um misto de melancolia, doçura, filosofia e diversão. Green nos mostra um amor verdadeiro... muito mais romântico que qualquer pôr do sol à beira da praia.”

Toda a situação de sofrimento é vista pelo casal central como “um efeito colateral de estar morrendo”, numa alusão clara ao sentimento de não se poder contar com um futuro, sequer um futuro próximo, no caso de um portador terminal de um câncer.

John Green poderia facilmente resvalar para o dramalhão lacrimoso e, mesmo assim, seu sucesso estaria garantido junto ao seu público. Mas – e aí está a mão de um escritor mais maduro – suas escolhas narrativas caminham para a mensagem da manutenção da dignidade, mesmo no caso de uma doença terrível. Hazel amadurece no contato com Augustus, ele também cresce. Uma referência a isso é o Diário de Anne Frank – uma outra história de superação – pois quando os adolescentes vão à Holanda, atrás do escritor Peter Van Houten, visitam o memorial da famosa autora.

Van Houten se revela um ser revoltado, de mal com a vida, buscando o isolamento do mundo e recusando-se ao trato gentil com as pessoas, em tudo contrastando com a dignidade e a alegria de viver de Hazel e Waters. O escritor é um ser humano detestável, nem a própria secretária Lidewij consegue conviver com ele. Imerso na bebida, parece se alimentar do próprio sofrimento.

Talvez esteja aí uma das razões para tanta demonstração de apreço dos jovens para com John Green: ele não menospreza a inteligência dos adolescentes. Outro componente de sucesso é que ele mantém um canal aberto com o público, através do Youtube. Os adolescentes, provavelmente, o sentem como alguém do seu próprio mundo, falando sua própria língua.

É um livro honesto, para falar o mínimo. Leitura recomendada para os jovens e para aqueles que não esqueceram terem sido jovens um dia.

GREEN, John. A Culpa é das estrelas. Editora Intrínseca. Rio de Janeiro, RJ: 2012

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