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domingo, 11 de dezembro de 2016

Resenha nº 84 - O Poste de Vapor, de Ferenc Molnár

Título: O Poste de Vapor
Título Original: A gözoszlop
Autor: Ferenc Molnár
Tradutor: Paulo Schiller
Editora: Cosac Naify
Copyright: 2005
Páginas: 90
ISBN: 85-7503-432-4
Posfácio de Samuel Titan Jr.
Gênero Literário: Novela
Nacionalidade: Literatura Húngara
Bibliografia do autor: 1901 - Az éhes város;1901 - Egy gazdátlan csónak története; 1907 - A Pál utcai fiúk (no Brasil: Os meninos da rua Paulo, também adaptado como peça de teatro no Brasil); 1908 – Muzsika; 1916 - Egy haditudósító naplója; 1933 - A zenélő angyal; 1938 - A zöld huszár; 1950 - Útitárs a száműzetésben – Jegyzetek egy önéletrajzhoz; 1952 - A Dohány-utca és a Körút-sarok. Escreveu, ainda, cerca de 58 peças de teatro.

Ferenc Molnár (1878-1952) nasceu em Budapeste, no seio de uma abastada família judia. Ainda jovem, conquistou enorme sucesso como jornalista, romancista e dramaturgo – peças como Liliom (1909), Carnaval (1916), O Cisne (1921) ou Farsa no Castelo (1925) alcançaram sucesso muito além das fronteiras húngaras. Com a ascensão do nazismo, exilou-se nos Estados Unidos, onde veio a falecer em 1952, num hotel de Nova York. De sua autoria, a Cosac Naify publicou o clássico Os meninos da Rua Paulo, de 1907, na tradução de Paulo Rónai.
Até bem pouco tempo, tudo o que me lembrava do escritor húngaro Ferenc Molnár era ele ter escrito um clássico lido durante minha adolescência, de nome Os meninos da rua Paulo. Os personagens Boka, Nemeczek, Chico Áts participando da sociedade do betume entraram para o rol dos seres imaginários que povoavam minha cabeça. Era uma edição modesta, de bolso, da Ediouro; lembro-me bem, havia uma capa amarela, mas não me lembro mais se fora leitura recomendada pelo professor ou se fora de minha própria iniciativa.
Agora, chega-me às mãos esse O poste de vapor. De início, um título estranho, criativo, mas indevassável sem a leitura do texto, quase tão indevassável como o é para nós o idioma húngaro, no qual foi escrito originalmente. É uma novela, uma pequena obra-prima desse autor quase desconhecido no Brasil. Este volume, que tenho em mãos, em nada me faz lembrar do outro, escrito de maneira tão lírica. Aqui, o tom é o de uma novela burlesca.
Tudo começa com a estranha figura de um capitão de cavalaria, um hussardo[1], segundo ele mesmo. Esse personagem não tem um nome que o identifique e, por isso, o narrador sempre se referirá a ele como “capitão”. E o encontro entre os dois se dá de maneira completamente insólita, na Ilha Margarida, na cidade de Budapeste. O acesso a essa ilha é feito através de uma ponte de ferro sobre o famoso rio Danúbio, unindo as duas partes – Buda, mais alta e Peste, mais baixa – e um braço ligando essa travessia à referida ilha. Pausa para uma curiosidade: a ponte de ferro foi construída pelo mesmo construtor da Torre Eiffel, de Paris.
O narrador frequentava, durante as férias, as instalações da Ilha Margarida; morava por um tempo no hotel e foi lá que ele avistou aquele que seria o personagem central da história. Como disse, o insólito envolveu este encontro. É que o capitão havia tomado um banho quentíssimo e, logo depois, saiu para a rua. Como o inverno estava rigoroso, o desnível entre a temperatura do ambiente e a temperatura corporal do capitão fez com que dele se desprendesse um “tubo” de vapor, criando a ilusão de um poste. Daí o nome estranho: O Poste de Vapor.
Ferenc Molnár nos dá um personagem amalucado, de imaginação exacerbada, hóspede indesejável ao hotel. Como aquele outro famoso personagem, Sherlock Holmes, o Capitão gosta de praticar tiro dentro do quarto do hotel. Atira contra fotografias de pessoas, compradas exatamente para esse fim.
As malucas aventuras desse hussardo – que, mais tarde descobre-se, nem era mesmo capitão de qualquer coisa –, algumas eróticas, são referidas ao longo do texto. Molnár nos dá um texto bastante compactado, no curto espaço de 74 páginas. Não posso contar muita mais da história, sob pena de realizar um spoiler. Há momentos em que essa preciosa novela nos faz lembrar de As Aventuras do Barão de Münchhausen, de G. A. Burger. Senão, veja o que nos diz Samuel Titan Jr., em seu utilíssimo posfácio:
“Narrando os feitos e as tribulações do capitão com sua pena veloz e galhofeira, de um mundanismo depurado e inteligente, Molnár monta um mecanismo sutil de personagens, situações e quiproquós que vai muito além da crônica de jornal. Como se a história do misterioso ‘poste de vapor’ guardasse algum segredo sobre a época anterior à Primeira Guerra Mundial e seu sonho de uma grande harmonia de ascensão burguesa, sonhos imperiais e ímpetos renovadores; como se o erotismo fantasioso e cavalheiresco desse hussardo fosse o motor de todo um mundo que insiste em girar a dois ou mais palmos acima do real. ”
Há um delegado do condado, que compõe a galeria de personagens estranhos. É um ser amalucado; romancista de um texto que ninguém poderá ler, tem uma técnica estapafúrdia:
“Trabalhava  havia meio ano num grande romance sobre a sociedade que era, com certeza, muito interessante, embora ninguém pudesse lê-lo, pois durante a redação o delegado tinha um hábito bem pouco prático: escrevia o romance inteiro num único pedaço de papel. Ao começar, preenchera toda a página. Depois, em vez de prosseguir em outra folha, tornou a escrever do alto da página cheia. Em seguida, ao chegar ao final do papel, continuou uma vez mais, imperturbável, na parte de cima. Quando me mostrou o romance, ele o escrevia havia seis meses. Se levarmos em conta que escrevia de seis a oito páginas por dia – sempre e apenas na mesma folha –, o romance devia ser verdadeiramente longo. No papel, não havia mais sombra de escrita. Transformara-se simplesmente num papel preto, como se o tivessem pintado. ” (página 15)
Situações igualmente desconcertantes são montadas nessa novela, como o trecho que se segue:
“O capitão e o farmacêutico enfrentaram-se como inimigos uma única vez. Organizaram uma competição e escolheram-me como árbitro. O objetivo da competição era saber qual deles seria capaz de comer as coisas mais absurdas. A razão de tudo havia sido eu mesmo, porque me espantara durante um jantar em que o capitão comera coxa de rã à milanesa. Como árbitro, dei a partida. O farmacêutico foi à cozinha do hotel, voltou e comeu um pequeno peixe vivo. Fez um grande sucesso. Diante disso, o capitão mordeu a borda de uma taça fina de champanha, moeu o vidro na boca e o engoliu. O farmacêutico, por sua vez, devorou a capa do diário Pester Lloyd, o artigo principal e a crônica, tudo até a última linha, sem trapaça. ” (página 22)
No começo desta novela estranha, o narrador está em Berlim e, ao atravessar a ponte Cornelius, que liga Berlim antiga à nova, observa algo que lhe chama a atenção:
“Por conta disso [a manutenção da ordem no trânsito na ponte], construiu-se, entre as pistas, um guarda de mentira, feito de madeira e vidro. Era um poste da altura e da largura de um homem, pintado exatamente na cor do uniforme verde-acinzentado dos guardas de trânsito de Berlim. A base do poste era coberta de tinta preta brilhante, que imitava com perfeição o barrete negro e lustroso dos guardas. ” (página 8)
Tudo neste livro soa estranho, deslocado – personagens, lugares, relatos. A leitura atenta nos revela, entretanto, uma sátira ferina a costumes, situações e fatos. É hora de acionar a contextualização. E eis que, à época em que Molnár escreveu esta obra, vivia ainda em Budapeste. Não havia iniciado a sua imigração. Que fatos sociopolíticos o levariam a realizar tal empreitada? Estamos diante do declínio do Império Austro-Húngaro, antes da Primeira Grande Guerra Mundial.
A importantíssima família dos Habsburgos governava um país muito grande, conhecido por Áustria. Na verdade, abrigava povos diferentes, com culturas e línguas diferentes. A região que hoje se conhece como Hungria fazia parte deste vasto império. Eles reivindicaram maior autonomia; em 1867, a antiga Áustria foi dividida em duas partes, mas com apenas um governo central. Nascia o Império Austro-Húngaro. Tal situação se manteve até 1918. Tal verdadeiro tapa-buracos satisfez os austríacos (falantes do alemão) e magiares (falantes do húngaro). Entretanto, outros grupos étnicos, como eslavos, bósnios, também desejavam ter seus próprios países. Essa tensão culminou no assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro, em Sarajevo, capital da Bósnia. Como o assassino era um bósnio de origem sérvia, como consequência, a Áustria declarou guerra à região da Sérvia e outros países foram entrando no conflito, desembocando na Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
Ferenc Molnár, em seu O Poste de Vapor, por suas características satíricas, aborda exatamente a decadência dos hussardos (simbolizados na figura do capitão), dos barões e baronesas, dos palacetes antigos. Todo esse material crítico aponta – muito apropriadamente, na minha opinião – para uma contundente crítica social àquele sistema em declínio de um império que se esfacela. E, neste enquadramento, passa a fazer sentido a narrativa aparentemente incoerente, tão repleta de estranhamentos, fatos e personagens deslocados.
Leitura fortemente recomendada, para quem goste de explorar a contextualização que envolve uma importante obra literária de um autor quase desconhecido por essas terras brasilis.
Gostaria, já concluindo, de explicar ao leitor amigo deste blogue, como cheguei a este livro e a outros que, de tempos em tempos, postarei aqui: é que me encantei com a literatura do leste europeu, quando fiz uma viagem por esta parte da Europa. Não que saiba qualquer coisa do idioma húngaro, mas, de volta ao Brasil, fiz uma pesquisa e dei com nomes como Gyula Krúdy, Imre Kertész, Sandor Márai, Karel Čapek, Dersö Kostolanyi, etc. Eles vieram se somar a Milan Kundera, Franz Kafka e – obtive, outro dia, referências a respeito de Antal Szerb, conterrâneo de Ferenc Molnár.




[1] Hussardo: subst. masc., cavaleiro húngaro. 

domingo, 4 de dezembro de 2016

Resenha nº 83 - A Livraria Mágica de Paris, de Nina George

Resultado de imagem para a livraria mágica de paris resenhaTítulo: A Livraria Mágica de Paris
Título original: Das lavendelzimmer
Autora: Nina George
Tradução: Petê Rissatti
Editora: Record
Edição: 1ª
Copyright: 2016
ISBN: 978-85-01-10761-9
Gênero Literário: Romance
Nacionalidade: Alemanha
Bibliografia: com o nome de Nina George – (2013) A Livraria Mágica de Paris; (2010) The Moon Player; (2008) How the Hell; (2005) The Vocabulary of Men; (2003) The Way of the Warrior; (2003) Jack, Queen, Checked, Death; (2001) No Sex, No Beer and Lots of Dead. Como Anne West: (2009) What Women Dream and How To Get It; (2009) Sex for advanced skiers; (2009) Feeling - the feeling; (2009) Absolute Sex; (2007) Sex Goddesses Manual; (2006) One Day Sex; (2006)The Venus Effect;(2005) First Aid For Those in Love; (2004) Dirty Stories, Droemer Knaur; (2003) Kamasutra Without Hernia, as co-author; (2003) Why Men Are So Quick and Women Just Pretend; (1998) Good Girls Do It in Bed - Bad Ones Everywhere. Como Jean Bagnol: (2015) Commissarire Mazan and the blind angel; (2013) Commissaire Mazan and the heirs of the Marquis.
Como fica evidente em sua bibliografia, Nina George é uma autora prolífica. Este A Livraria Mágica de Paris é a única obra da autora com tradução para a língua portuguesa; pelo menos, é o que consegui apurar nas pesquisas pelo google. Nina nasceu em 30/08/1973, na cidade de Bielefeld, Alemanha. Publicou nada menos que 26 livros, entre literatura e não ficção, bem como mais de 100 contos. É jornalista, escritora e professora. Nina é casada com o também escritor Jens J. Kramer e divide seu tempo entre Hamburgo e a Bretanha. Este seu A Livraria Mágica de Paris já vendeu mais de um milhão de exemplares no mundo, sendo igualmente um sucesso de crítica.
A obra em questão é a história de Jean Perdu, possuidor de um barco-livraria, onde ele pratica a biblioterapia, isto é, a prescrição de livros para todos os males – físicos ou psíquicos. Ele se considera um “farmacêutico literário”. Portanto, seus clientes-pacientes saem da livraria com alguma indicação para seus males, após fazerem uma “consulta” com Monsieur Perdu. É um dom que ele tem, não explicado no livro, dom usado com bastante competência. Competência quase total. O quase, aí, é porque Jean, se resolve os problemas dos outros, não consegue solucionar o seu.
Há algum tempo, Jean Perdu tivera uma amante, por nome Manon Basset – uma mulher casada –, por quem se apaixonara. Certo dia, entretanto, ele acordara sem a presença da amante; existe apenas uma carta, na qual ela explica os motivos do seu sumiço. Mas Perdu não abre a carta por medo do que encontraria nela. E assim, os 21 anos vão se passando, o livreiro convive com o seu drama pessoal, com sua tristeza.
Perdu reside num prédio de apartamentos, localizado em Paris, à rua Montagnard. Aí residem pessoas interessantes, várias são frequentadoras do barco-livraria. A todos Perdu atende solicitamente.
Certo dia, aparece por lá Max, um escritor, que se tornará um amigo muito importante para nosso personagem principal. O livreiro, finalmente, resolve abrir e ler a carta de sua Manon. Quando o dono do barco resolveu partir para o interior da França, indo para a cidade de Sanary-sur-Mer, navegando pelo Rio Ródano. Vai finalmente em busca de maiores notícias de sua querida e inesquecível Manon.
Nesta viagem, conhece mais duas pessoas, as quais serão suas amigas: Samantha e o interessantíssimo Salvatore Cuneo. Enquanto isso, Jean Perdu escreve cartas e envia postais dos lugares por onde passa para Catherine, sua vizinha do prédio da rua Montagnard. Monsieur Perdu tivera uma quase relação íntima com ela, mas os medos dele não deram margem a que tal acontecesse.
Apesar de fixar residência em Sanary, onde trabalha numa livraria, é na localidade de Luberon que seu passado o espera. Conhecemos melhor Manon Basset por intermédio dos diários de viagem que são inseridos na trama; eles, pouco a pouco, vão compondo a personalidade de Manon, seus caminhos e suas escolhas.
Para Monsieur Perdu, há três categorias de clientes do seu barco-livraria:
“Os primeiros eram aqueles para quem os livros significavam o único sopro de ar fresco no sufoco do dia a dia. Seus clientes preferidos. Confiavam no que Monsieur Perdu lhes dizia que precisavam. Ou compartilhavam com ele suas vulnerabilidades, como ‘Por favor, nada de romances com montanhas, elevadores ou grande paisagens vistas de cima... tenho medo de altura’. [...]
“A segunda categoria de clientes só ia ao Lulu, nome original do barco-livraria ancorando no Port de Champ-Élysées, porque era atraída pelo nome do estabelecimento: La pharmacie littéraire. [...]
“Mas essas pessoas eram pouco irritantes se comparadas às do terceiro tipo, que se consideravam reis e rainhas, só que, infelizmente, não se comportavam como tal. Com tom de censura, sem nem lhe dar um Bonjour, sem olhá-lo na cara, tocando cada livro com dedos engordurados de pommes frites, questionavam Perdu: ‘O senhor não tem curativos adesivos com poemas? Não tem papel higiênico estampado com romances policiais? Por que o senhor não vende travesseiros infláveis de viagem? Faria bastante sentido numa farmácia literária’.” (páginas 19/20)
Samantha (Samy) torna-se amiga do livreiro, terá um papel importante no desenrolar da história. É dela, por exemplo, o conceito de mundo intermediário (ou tempo ferido):
“Tenho pensado com frequência nisso que Samy chamou de tempo ferido, de mundo intermediário. Em deixar para trás a soleira entre a despedida e o recomeço. Eu me pergunto se minha soleira acabou de começar... ou se já dura vinte anos. Você também conhece esse tempo ferido? A dor de amor é como a dor do luto? Essas são perguntas que posso te fazer?” (página 236)
Como não podia deixar de ser num livro sobre a função terapêutica da literatura, há diversas referências metaliterárias (quando a literatura faz referências à própria literatura):
“Monsieur Perdu pegou A elegância do ouriço do chão. A queda havia danificado a lombada. Ele teria de vender o romance de Muriel Barbery por um ou dois euros a um dos buquinistas que ficavam nas margens do rio e comercializavam livros em caixas que as pessoas fuçavam.” (página 19)
Há determinadas obras literárias (os clássicos, de um modo especial possuem essa característica) nas quais um determinado trecho, não necessariamente longo, joga luz sobre si próprio, fornece uma importante chave interpretativa ou fornece uma nuance sensorial que pode mudar a maneira pela qual vínhamos construindo o trabalho de interpretação, de entendimento ou mesmo de sentir o texto. Aconteceu com este A Livraria Mágica de Paris:
“— Porque você me ama, eu aprendo a me amar também – lhe dissera ela naquela manhã, quando o mar ainda estava azul-cinzento e meio adormecido. — Eu sempre aceitei o que a vida me ofereceu... mas nunca me ofereci. Eu não conseguia me esforçar por mim mesma. — Quando ele a puxou com suavidade, Jean pensou que com ele acontecia o mesmo. Ele só conseguia se amar porque Catherine o amava.” (página 258)
Vejam bem, meus caríssimos leitores deste blogue, a ideia contida aqui é uma compreensão mais ampla, a de que é porque alguém me ama – pela existência do amor do outro – que eu aprendo a me amar. Não é só um achado poético, belíssimo, mas uma verdade: nós, seres humanos, somos interdependentes, queiramos ou não; bebês criados sem amor morrem cedo. Não é a ideia do amor piegas, mas do que os gregos conheciam como “storge”, isto é, um amor conjugal, sacrificial, o que une um homem e uma mulher e eles a seus filhos. Entretanto, vai além desse conceito, pois, objetivamente, é sentir-me incondicionalmente acolhido que me faz amar a mim mesmo.
O aspecto do suspense, também presente no livro, é dado pela seguinte questão: quem seria o autor do livro Luzes do Sul, o qual tanto impressionara o livreiro Jean Perdu? Ninguém o conhece. O desafio de encarar o passado e dele se libertar, de lançar a carga fora e poder amar integralmente outra vez é motivo impulsionador da viagem do farmacêutico literário a bordo do Lulu.
Mais que recomendo a leitura desta obra absolutamente apaixonante. Pelo menos na minha modesta opinião, não é a trama que nos dá vontade de ler o texto até o fim; também não é a forma com que a autora trata o tempo; não são as memórias. É a construção dos personagens. Ricos, com coisas interessantes para dizer, com personalidades complexas, atitudes inesperadas, são eles que me motivaram a leitura. Quem degustar A Livraria Mágica de Paris até o fim, encontrará o personagem Luc Basset – e terá um belo exemplo do que estou querendo dizer.

Não perca essa leitura por nada!