Título Original: We Should All Be Feminists
Autora: Chimamanda Ngozi Adichie
Tradução: Christina Baum
Edição: 1ª edição, 5ª reimpressão
Editora: Companhia das Letras
ISBN:978-85-359-2547-0
Origem: Nigéria
Número de páginas: 63
Gênero Textual: Palestra (transcrita)
Bibliografia: Romances: Meio Sol Amarelo (2008); Hibisco Roxo (2011); Americanah (2014). Conto: The thing around your neck (2009). Palestras:
The danger of the single story – O perigo
de uma história única, TED – Ideas Worth spreading (2009) e We should all be feminists – Sejamos todos
feministas (2012) – TEDXEuston.
Caso raro em toda a minha
experiência leitora, Chimamanda Ngozi Adichie é uma escritora que conquistou
minha apreciação antes mesmo de eu ter lido uma só página de sua obra. Esta
autora nigeriana, nascida na cidade de Enugu, em 1977, me fez prestar atenção
nela por meio da famosíssima palestra no Youtube, O perigo de uma história única. Já havia ouvido falar dela, já
havia visto livros seus em ilhas expostas em livrarias – mas, de fato, meu
contato para valer foi a partir da citada palestra.
Foi, portanto, muito fácil incluí-la nesse meu projeto de homenagem às mulheres - projeto este que ocupará todas as resenhas programadas para este mês.
Foi, portanto, muito fácil incluí-la nesse meu projeto de homenagem às mulheres - projeto este que ocupará todas as resenhas programadas para este mês.
Meio sol amarelo foi ganhador do prêmio literário Orange Prize,
tendo sido também adaptado para o cinema em 2013. Traduzida para mais de trinta
línguas, Chimamanda apareceu em inúmeros periódicos, como as revistas New Yorker e Granta. Esta última, Granta,
é a bíblia da literatura de língua inglesa.
Então, tenho em mãos o opúsculo Sejamos todos feministas. Pequeno grande
livro. Como da outra vez (na palestra que deu origem ao livro), ela nos oferta seu ponto de vista sobre tão delicado
tema, o feminismo. Ao mesmo tempo que Adichie nos dá um texto emocional, a
partir de suas vivências como negra e mulher, numa sociedade fortemente machista
como a da Nigéria, como a americana – e, de resto, com a mesma característica
em qualquer país do mundo, uns mais, outros menos, sua exposição também conta
com um forte apoio contextualizado e um conjunto de argumentos dignos de nota:
“Se repetirmos uma coisa várias vezes, ela se torna normal. Se vemos uma coisa com frequência, ela se torna normal. Se só os meninos são escolhidos como monitores da classe, então em algum momento nós todos vamos achar, mesmo que inconscientemente, que só um menino pode ser o monitor da classe. Se só os homens ocupam cargos de chefia nas empresas, começamos a achar “normal” que esses cargos de chefia só sejam ocupados por homens. ” (página 17)
Seu feminismo advém de uma visão balanceada,
de uma compreensão de haver papéis diferentes para homens e mulheres, não sendo
aquele feminismo raivoso, que propõe a queima de sutiãs em praça pública:
“Homens e mulheres são diferentes. Temos hormônios em quantidades diferentes, órgãos sexuais diferentes e atributos biológicos diferentes – as mulheres podem ter filhos, os homens, não. Os homens têm mais testosterona e em geral são fisicamente mais fortes do que as mulheres. Existem mais mulheres do que homens no mundo – 52% da população mundial é feminina –, mas os cargos de poder e prestígio são ocupados pelos homens. ” (página 20)
Na sequência argumentativa, a
autora conclui:
“Então, de uma forma literal, os homens governam o mundo. Isso fazia sentido há mil anos. Os seres humanos viviam num mundo onde a força física era o atributo mais importante para a sobrevivência: quanto mais forte a pessoa, mais chances ela tinha de liderar. E os homens, de maneira geral, são fisicamente mais fortes. Hoje, vivemos num mundo completamente diferente. A pessoa mais qualificada para liderar não é a pessoa fisicamente mais forte. É a mais inteligente, a mais culta, a mais criativa, a mais inovadora. E não existem hormônios para esses atributos. Tanto um homem como uma mulher podem ser inteligentes, inovadores, criativos. Nós evoluímos. Mas nossas ideias de gênero ainda deixam a desejar. ” (página 21)
Contraditando a ideia de que o
machismo existe porque a cultura assim o estabelece, Chimamanda dá um
verdadeiro xeque-mate argumentativo:
“A cultura não faz as pessoas. As pessoas fazem a cultura. Se uma humanidade inteira de mulheres não faz parte da nossa cultura, então temos que mudar nossa cultura. ” (página 48)
E, lucidamente, nossa autora
fecha seu texto redefinindo e atualizando o conceito de feminismo:
“A meu ver, feminista é o homem ou a mulher que diz: ‘Sim, existe um problema de gênero ainda hoje e temos que resolvê-lo, temos que melhorar’. Todos nós, mulheres e homens, temos que melhorar. ” (página 50)
Sejamos todos feministas, desta forma, se configura como uma
proposta de valorização do ser humano. Homens e mulheres, mais verdadeiros
consigo mesmos e com os outros, têm maior chance de convivência harmônica e
produtiva. Trata-se de respeitar as diferenças, no que forem diferentes; valorizar a universalidade, no que forem universais.
A luta pelo reconhecimento do
feminino não é de hoje; Christine de Pizan, já no século XIV escreveu o que é
reconhecido como o primeiro tratado feminista, O Livro da Cidade das Mulheres, em Paris; Simone de Beauvoir
tornou-se famosa ao produzir O Segundo Sexo, só para citar algumas batalhadoras. A elas vem somar-se Chimamanda
Ngozi Adichie, com este depoimento cuja leitura mais que recomendo.
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